Eu usava uma mochila grande, uns sapatos demasiado caracteristicos, o cabelo amarrado bem lá em cima, que abanava conforme ia caminhando.
Às vezes ficava intalada na porta com a confusão, ou distraía-me a olhar para as pessoas com mais um metro do que eu.
Era pequena e frágil, tinha os meus amigos e a minha eterna mochila.
Caminhava pelos corredores desorientada, e olhava as pessoas com estranheza.
Apertava o casaco na mão, como se pudesse segurar o meu mundo e teletransportar-me para algo seguro. Não sabia onde estava.
Suspeito que o pára-quedas do destino não abriu e me largou ali, ao calhas, por situação de emergência.
Hoje nada sei. O tempo passou demasiado rápido para que pudesse assimilar alguma coisa. Vivi tanto quando pude, descobri tudo quanto havia por descobrir. Vi quem era, quem tinha sido, e quem podia ser.
Deixei de usar a mochila, cortei o rabo de cavalo gigantesco e os sapatos foram gradualmente trocados. Cresci, numa volta vertiginosa desta montanha russa, mas a vida vai sendo assim, vai me mostrando o pouco e nada que tem, o pouco e nada que oferece.
Apertei variadas vezes o casaco do medo contra a barriga. Nunca fui teletransportada. E ainda bem!